06 julho, 2010

A nossa boneca negra

Quando a Nina fez 2 anos ganhou do tio Roberto uma boneca negra. Uma bebezinha negra, negra como o tio Roberto. Que é irmão do Papai. Irmão adotivo, irmão do coração.



A Nina sempre amou sua boneca negra sem fazer distinção das outras. Ela já tinha uma bebezinha branquinha e depois ganhou mais uma, que chora, ri, fala mamá e papá. E ela nunca deu preferência por uma ou por outra. As três bonecas estão sempre juntas, as brincadeiras sempre incluíram as três.

E um dia a Nina (com mais ou menos dois anos e meio de idade) levou sua boneca negra à casa de uns amigos nossos, muito ricos, muito bem de vida. E as filhas do casal, um pouco maiores, não queriam emprestar nenhum dos 1.234 brinquedos existentes no quarto delas pra Nina brincar. Na verdade a Nina nem podia entrar no quarto! Então eu propus à Nina que ela desse o exemplo e emprestasse a sua boneca pra menina mais nova poder brincar. E de repente a menina me solta um:

- Eu não quero brincar com essa boneca! Eu não gosto de gente dessa cor!

Uma menina de 4 anos, já com tanto preconceito. Com certeza adquirido, pois ninguém tão novo já faz esse tipo de diferença!



E naquele dia eu fiquei ainda mais apaixonada pela nossa boneca negra. Ela nos ajudou a ensinar à Nina que todas as pessoas são iguais e devem ser amadas e respeitadas independente da sua cor. Ela nos lembrava sempre de que nem todas as bonecas e nem todas as pessoas são brancas.

Talvez eu nunca tivesse comprado uma boneca negra pra minha filha. E então eu nunca teria percebido como foi importante pra educação dela. E eu estou partilhando essa história com vocês pra gente parar e pensar, que tal todos nós também darmos bonecas negras para as crianças?

11 comentários:

Magnum Opus disse...

É meio estranha essa reação da menina. De qualquer forma merecia um bom castigo...
E eu acho que além de darmos bonecas negras, poderíamos dar bonecas asiáticas, se é que existe...

Monique disse...

Só 4 anos e já com esse pensamento? Imagine qdo crescer, se ninguém fizer nada para ela mudar de atitude?? (comentei antes que a Jê, lalá lalá!)

Je disse...

Pois é, os pais as vezes falam coisas preconceituosas mesmo sem perceber e a criança pega isso num instante.... Sinto pena da garota e da vida que mediocre que ela terá se continuar pensando assim: egoista e preconceituosa!

Monique: não se ganha geléia por comentar antes e sim pela quantidade de comentários hahhaha
Rumo ao BI!!!

Dani disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Silvia disse...

Boa idéia Dani!
quando eu for presentear a minha sobrinha com uma boneca, darei uma negra... elas são tão bonitinhas... Daí já dá para minha irmã trabalhar essas questões de preconceito com ela.
Embora eu ache que nunca irei presenteá-la com boneca/brinquedos, ela tem um monte e na minha família parece que tem uma competição de quem dá mais presentes para ela. Eu sempre dou roupinha e futuramente darei livrinhos (claro que com umas dicas suas).
;)

Í. disse...

Adoro a ideia, a Ana também tem uma bonequinha negra, uma outra de cabelo rosa, de pano etc. A gente tem que mostrar as diferenças, mas não pra marcar a diferença, e sim para inserir a criança na realidade. Não dá pra esquecer que o imaginário da criança também é sua realidade, e ela deve ser o mais plural possível.
Adorei o post, Dani. Beijão!
Sisi

Bi disse...

Lindo exemplo! =)

Beijinho...

P.S: Adorei as fotos! E como a Nina tá a tua cara!

Anônimo disse...

Uma das minhas primeiras bonecas era a Nega Fulô...adorava!!

bjo
Sany

Silvia disse...

Ai, que lindo...

Bom, lembrei de uma história da minha mais velha. Um dia fomos a uma loja de brinquedos porque minha mãe queria que minha caçula escolhesse um presente de aniversário. A caçula faz em novembro, então o dia das crianças tinha passado há pouco mais de um mês e faltava mais ou menos um mês pro Natal. Definitivamente, não tinha motivo pra nenhum presente fora de hora pra mais velha. A pequena nem tava concentrada na tarefa, devia ter uns 2-3 anos. A maior, dois anos mais velha, olhava e analisava tudo, e estava na fase de amar essas bonecas-bebê de paixão. E parou na frente de uma boneca bem parecida com essa tua "neta". Os olhos brilharam, ela se abaixou e ficou admirando, pegando e falando: eu quero muito essa boneca, mãe! E eu dizia que, então, escrevesse pro Papai Noel, pois o Natal estava chegando. Ela aceitou o pedido, mas volta e meia retornava ao local e ficava "namorando" a boneca. Só sei que, com medo do frenesi do Natal, tratei foi de comprar logo e deixar guardadinha, porque seria uma decepção se ela não viesse. No Natal, foi felicidade total. Sempre foi apaixonada pela Malu (batizou de Maria Luiza), e várias vezes disse que queria que a boneca virasse bebê de verdade.

Tão gostoso, né?

Denise disse...

Minha mãe desde que eu era pequena sempre trabalhou fora, então como na maioria das vezes ficamos com as nossas "mães postiças" que nos dão de comer, beber e nos cuidam com o mesmo amor de nossas maes. Eu tive a grande sorte de ter um mãe negra que com muito amor ajudou minha mãe a me criar e a criar tambem meus irmãos. Anos se passaram e a historia voltou a se repetir agora com os netos, nossos filhos, e mais uma vez tivemos sorte ..pois lá estava ela a nossa mãe preta para nos socorrer...conclusão meu filho mais velho tem 25 anos e é formado em cirurgiao buco-maxilo e em sua formatura de odonto quem voces acham que ele chamou para ser a Madrinha dele??? é claro que foi a "Vó negra" dele que com todo o orgulho entrou de braços dado com o tao amado doutor! Preciso falar mais alguma coisa? O Amor não tem cor....ele só tem coração!

Tirzá Souza disse...

Li pouco de seu blog, mas já gostei muito... Vou passar mais por aqui. Só pra constar: quando eu era menina, ganei de Natal uma boneca indígena. Eu cresci brincando com ela que só doei quando me tornei mulher feita...