28 julho, 2010

Viver o agora

E o médico me olhou bem nos olhos e disse que eu tinha apenas mais um mês de vida. Que não havia mais o que fazer, esse seria o meu destino.

Fiquei chocada, lembro de ter pensado no meu marido, nas crianças... O que seria deles? Eu não ia ver meus filhos crescerem, eu não ia mais ficar velhinha ao lado do meu marido, aguentando nossas chatices, como sempre havíamos combinado.

Passei o mês todo tentando não parecer triste e deprimida, eu queria que meus filhos tivessem apenas boas lembranças de mim. Eles brincavam, corriam, e eu ficava ali do lado, absorvendo tudo, curtindo cada momento pra ter certeza de participar mais um pouquinho que fosse da vida deles. Até que o dia chegou.

Eu estava na cama do hospital e já não conseguia me comunicar. Eu sentia que o meu último fio de vida estava acabando e eu não conseguia dizer ao meu marido o quanto eu o amava, que eu queria que ele cuidasse muito bem das crianças, mas que ele fosse feliz, que se casasse novamente, que seguisse com sua vida! Eu só conseguia olhar nos olhos dele e ver o desespero, o medo da responsabilidade de criar nossos filhos sozinho. Ele me pedia com os olhos que eu não fosse, que não o deixasse.

E meus olhos se fecharam.

E se abriram novamente, e eu estava chorando, como poucas vezes chorei na minha vida. Demorou um tempo pra que eu visse onde eu estava, o que havia acontecido. Eu estava na minha cama, meu marido me perguntando, preocupado, o que foi, e eu não conseguia nem responder. Então eu percebi que tudo não passou de um pesadelo. Desses bem reais, que confundem a cabeça da gente. O pior que eu já tive até hoje. Eu só abracei meu marido e continuei a chorar, convulsivamente. E chorei, chorei, chorei, até adormecer de novo. Acho que demorou uns dias pra que eu conseguisse explicar pra ele o que foi que eu tinha sonhado. Esse pesadelo me marcou tanto que mesmo hoje, quase 1 ano depois, meus olhos se encheram de lágrimas ao escrever esse texto.

Mas ele me fez ver também que a vida realmente pode acabar a qualquer momento, que a gente tem que curtir e agradecer aos céus pela saúde e pelo amor que a gente tem agora. Eu não quero mais desperdiçar nenhum minuto do meu presente.

5 comentários:

Bruno disse...

Irônico, né Dani, o poder que têm essas experiências de morte para nos mostrar a grandeza da vida.

Comigo foi assim. Aquela história toda do assalto na Bolívia me marcou muito fundo. Imagino se ainda tivesse que pensar em dois pimpolhos...

(E, caramba, gostei demais desse blog aqui! Tudo tão gostoso de ler...)

Magnum Opus disse...

É complicado quando a gente anda na linha tenue entre a vida e a morte... e se a gente pende pro lado da vida acaba ficando até meio ruim da cabeça depois hehe... hummm isso me deu uma ideia de postagem de blog...

Je disse...

Eu tive um sonho parecido com esses, só que eu perdia alguém e no sonho eu estava no banho chorando...Acordei com o choro e fiquei com um aperto no peito danado e durante uns dias ainda fiquei com uma sensação ruim..
Apesar da sensação ruim que ficamos com esses sonhos, às vezes eles nos dão um chacoalham...

Bi disse...

Nossa, Dani!

Por um minuto pensei que fosse sério... e que medo me deu!
Não só por você, mas por imaginar que isso pode realmente acontecer comigo, ou com qualquer um por aí.
Como dizem por aí: Para morrer basta estar vivo.

E é isso mesmo...
A gente é que esquece de VIVER na correria do dia a dia e quando menos vamos ver, lá se foi a VIDA.

Por isso é importante viver cada minuto, cada momento com quem a gente mais ama.
Meus olhos enchem de lágrimas ao falar isso, não só pela situação que você descreveu, mas por perceber neste minuto que podia estar aí, junto de todos vocês, dos meus pais, do meu irmão e de tantas pessoas que amo e estou aqui, do outro lado do oceano.
Isso dói demais...

Ah! E ainda bem que foi só um sonho ruim, né? Fique vem vivinha aí, tá?!

Beijos enormes...

Pé Mimado disse...

Bem, comigo aconteceu algo muito próximo. Lembra da minha reação alérgica pelos remédios que eu estava tomando para combater a virose??? Então, qdo o médico me disse que eu estava a beira de um choque anafilático eu fiquei muito assustada. Graças a Deus que eu tenho marido maravilhoso que cuida direitinho de mim e me levou para o Pronto socorro...mas e se eu estivesse sozinha?! Será que eu teria a iniciativa de procurar uma ajuda médica??
Ainda bem que depois que passa, a gente dá mais valor à vida, aos amigos, aos parentes, aos amores!

Beijos!